Terrorismo

Os ataques do 11 de Setembro popularizaram a imagem do terrorista à semelhança da figura hirsuta e fora de moda de Osama Bin Laden, como se a guerra santa promovida pelo Islã fosse um fenômeno de grotões que, ocasionalmente, transbordava para o coração da civilização ocidental.

Mas de lá para cá, a Europa foi vítima de atentados terríveis - o de Madri, em 2004, que deixou mais de 190 mortos, e o de Londres, em 2005, que matou ao menos 50 pessoas - e passou a ver o terrorismo islâmico com outros olhos. Perceberam que ele também era parte da realidade européia. E mais: descobriram que o inimigo, que parecia morar em regiões longínquas do Oriente, muitas vezes morava ao lado e era cidadão europeu, alguém que nasceu e cresceu sob os princípios ocidentais, que freqüentou as escolas gerenciadas pelo estado laico.

Tanto os atentados de Madri quanto os de Londres foram realizados por células de terroristas locais. Os autores do massacre em Madri eram, na maioria, marroquinos radicados na Espanha. Os autores das explosões no metrô londrino eram jovens cidadãos ingleses de classe média com boa escolaridade - três deles nascidos na própria Inglaterra, em famílias de imigrantes paquistaneses. Essa nova geração do terror comprovou o crescimento da mentalidade de jihad entre os muçulmanos que vivem no Ocidente e colocou uma nova questão para a Europa.

Até a Alemanha, que se sentia menos ameaçada pelo terror por não ter enviado tropas ao Iraque, se viu diante desse mal "que vem dentro". Em 2007, três cidadãos convertidos ao islamismo foram presos porque planejavam uma série de atentados no país. Eles armazenavam 700 quilos de peróxido de hidrogênio, a matéria-prima dos explosivos usados em Madri e Londres. O fenômeno atingiu também a Dinamarca. Um dia antes da prisão dos alemães, a polícia de Copenhague evitou um ataque terrorista prendendo oito jovens muçulmanos nos subúrbios da cidade.

O problema, no entanto, parece ser anterior aos atentados, pelo menos em Londres. No início de 2004, nove jovens muçulmanos - do mesmo perfil daqueles que, no ano seguinte, planejariam e executariam as explosões assassinas - foram presos pela polícia inglesa com meia tonelada de nitrato de amônia, produto químico com o qual se podem fabricar explosivos. Naquele tempo, a conversão dos jovens ingleses à guerra santa islâmica e a forma metódica como se preparavam para chacinar seus concidadãos já prenunciavam a tragédia de depois. O governo, porém, ainda não tinha se dado conta do perigo que esses grupos fundamentalistas representavam.

Para conter o avanço do terrorismo, alguns países europeus estão fechando o “cerco” as pessoas acusadas de incitar o ódio ou de fomentar o terrorismo. Os governos da Espanha e da Alemanha estudam meios de monitorar os sermões nas mesquitas. A Itália e a França deportaram radicalistas raivosos. A vigilância sobre grupos terroristas que agem ao estilo da Máfia, controlando atividades ilegais, como a venda de vistos falsificados, foi intensificada.

Dilema ocidental

O problema, contudo, parece ser mais complexo e exigir mais do que soluções exclusivas. A geração de filhos de imigrantes nascida em solo europeu, os beurs, como são popularmente conhecidos na França, têm promovido um movimento de volta às origens que rechaça e se indigna com o tratamento que seus pais receberam na Europa. É também uma forma de se afirmarem diante das dificuldades que encontram para se adaptar à vida em terras alheias tão hostis. Um sentimento digno como esse, pode, no entanto, se aliado a uma visão mitificada do Islã, levar o jovem muçulmano a ser seduzido por movimentos islâmicos integristas que pregam o ódio à civilização ocidental.

Combater o terrorismo sem violar os direitos civis dos muçulmanos ainda é um dilema para as democracias ocidentais, ainda mais para as européias, nas quais as populações islâmicas já chegam a 15 milhões de pessoas.

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